quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Pedra Aguda

Vai para dois anos, em palestra com o Dr. José Alci Paiva, convidei-o para fazermos uma excursão a Pedra Aguda, lugarejo no município de Aracoiaba, que tira o nome do penhasco colossal que lhe fica a ilharga, espécie de munumento ciclópico isolado em meio à planície.
Sabia-o íntimo de pessoas residentes no local, desde que exerceu as funções se secretário da Prefeitura Municipal de Aracoiaba.
Estávamos, então, no inverno, e, muito naturalmente, assentamos que o passeio se efetivaria nos primeiros dias do verão. Uma coisa, porém, eram nossos planos, e outra, muito diferente, a rigidez de obrigações profissionais que, de tão imperativas, acabaram por tornar fortuitos os nossos encontros. Assim não se realizou a projetada excursão.
Não data, entretanto, desse convite o meu propósito de ir àquele arraial completar apontamentos, para uma reportagem a respeito da pedra formidável erguida a prumo naquele recanto hostil do sertão, a apontar para o céu, como se lhe dera algum gênio misterioso, a missão de indicar, através de séculos sem fim, o roteiro imutável de gerações.
Durante o decênio compreendendo de junho de 1936 a setembro de 1946, viajei regular e pontualmente, uma vez por mês, para Baturité, levado por responsabilidade de ofício. Indo e vindo pela estrada de ferro, habituei-me à soberba e onolvidável perspectiva da Pedra Aguda que, a partir da estação de Antonio Diogo, surgia altaneira, sempre que o espaço entre duas elevações do terreno deixava livre a paisagem do sertão. A pureza atmosférica emprestava ao penedo um azul magnífico, sob cuja branda impressão vinham-me à lembrança, histórias misteriosas de que a lenda urdia, com certo encanto, o romance emocional da pedra solitária. Lá estava, prisioneiro, o casal de príncipes encantados por alguma fada perversa, a contar tristes árias de amor; o galo, companheiro dos dois reclusos, cuja voz argentina ouvia-se, ao meio dia em ponto, colando o ouvido ao flanco áspero da rocha; o tênue penacho de fumaça a escapar-se do alto cimo, no crepúsculo matutino, revelando as primeiras atividades domésticas. E tantas outras quimeras deliciosas que escondem a fatalidade brutal de uma provável convulsão monstruosa, cuja força irresistível plantou ali, para sempre, o rochedo gigantesco envolto no seu manto azul.
Mas, é que a hora das fadas passou. Agora, o correspondente de um matutino na capital, em comunicado especial, conta-nos, de Baturité, que um bando de destemidos operários escalou o penhasco, deixando plantado no topo, a centenas de metros de altura, a blusa molhada de suor de um dos bravos alpinistas.
Não conheço o correspondente em causa, mas, já que sei o nome, nada me custa dizer-lhe, com o entusiasmo que me causou o seu cuidado de registrar e divulgar um acontecimento, de fato, importante para o interesse turístico da região: – Muito bem, Sr. José Augusto Pinheiro! Salve! Em meio ao desinteresse geral da terra por problemas magnos, como é hoje o turismo, o seu comunicado abre uma clareira e por ela cai um feixe de esperanças sobre os propósitos da geração nova.
Amanhã, talvez, uma estrada bem cuidada comece a levar visitantes ao pé do monólito formidável, para experimentarem a emoção daquela grandiosidade que impõe-nos à alma assustada com o fascínio irresistível das coisas eternas.
E depois, quem sabe? – Baturité começará a ser centro de atração turística,
(*) Maciel, José. Minhas Idéias/Crônicas. Aula Editora. Rio de Janeiro. 1986. Pg. 183.

terça-feira, 12 de maio de 2009
PEDRA AGUDA
José Maciel

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