quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Quinô


 José Alci Paiva
            Ao tempo em que se passou esta história, meu cunhado e primo Boanerges Paiva exercia na antiga R.V.C. o cargo de Inspetor de Linha Telegráfica, possuindo, inclusive um telefone em sua casa de Parangaba, de onde, ainda de pijamas, podia se comunicar linha afora com seus subordinados à margem da ferrovia. A primeira oficina de assistência e manutenção era, naturalmente em Aracoiaba, de certo pôr motivos técnicos, mas o mais certo era porque ali morava seu pai e meu tio Enéas Paiva. Mais uma vez, juntava-se o útil ao agradável.
            No posto de serviço de Aracoiaba, estava ou deveria estar, sempre de plantão, o Quinô, funcionário antigo que do meu conhecimento, nunca deu um dia de serviço para ninguém, alegando um problema nas pernas resultante, entre muitos motivos, de muita “cana” que ingeria para preencher o tempo, justiça lhe seja feita, porque trabalho não havia.. Era pôr sinal meu compadre de crisma e ainda hoje me lembro da dificuldade com que sujiguei o meu afilhado já grandão, desde o Cruzeiro da Matriz de Aracoiaba ate a grade onde se encontrava o então Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes.
O Quinô era também compadre do Boanerges, e na casa deste, transformada constantemente em Consulado de Aracoiaba, sempre com muitas visitas para o almoço, jantar e dormida, estava morando uma filha dele, a título de estudos, uma meninota de uns doze anos.
Certa manhã, o primeiro telefonema foi como sempre para Aracoiaba e o Boanerges aproveitaria para dizer ao Quinô, que mandasse pelo trem “horário “CR$ 20,00 para comprar um par de sapatos para a menina”. Ao dar as primeiras rodadas no veio, já o Quinô estava respondendo das bandas de lá: “Compadre Boanerges, a linha está que é uma beleza”. Parece que o compadre esta aqui bem perto! A voz tá que é uma maravilha, não precisa encostar o fone no ouvido”. Boanerges aproveitou os elogios de uma boa audição e entrou no assunto do dinheiro: “Sim, Quinô, mas mande CR$ 20,00 pelo trem porque a menina esta precisando de sapatos. Não conseguiu porem ir mais adiante porque o compadre gritou do lado de lá:” Compadre, não estou ouvindo mais nada”.  O Boanérges repetiu a história do dinheiro cada vez mais alto, sabendo que o Quinô estava saindo pela tangente. Do outro lado o compadre alegava que estava passando uma nuvem, que não adiantava mais tentar: “Compadre, não esta dando mais nada. Não estou ouvindo nada. “Vou desligar”. E desligou.
O Quinô já hoje não existe, bem como o seu chefe. Mas o tema é representado vez por outra inteirinho, quando se fala em alguma coisa, especialmente dinheiro, que tenha de sair do bolso do outro. A Conversa vai muito bem, o assunto é do interesse de ambos, mas, quando se fala em dinheiro, o outro não está ouvindo mais nada.

4 comentários:

  1. Parabens Emiliana por homenagiar figura tao competente e amiga. Sinto saudades do distinto casal. Beijos

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  2. Peco permissao para usar parte dos textos para nossa arvore genealogica. Gostaria de utiliza-los como perfil de algumas pessoas que ele descreve?

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  3. Tio, acho que a mamae vai adorar a ideia, é só falar com ela.
    O espaço é também para contarmos historias dele...escreve!
    beijos,
    nana

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  4. BOANERGES PAIVA ERA CASADO COM IRENE JUCÁ DE PAIVA. AMBOS NASCIDOS EM ARACOIABA.

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